Um domingo qualquer...

Mais um domingo de sol.

Enquanto a familia Pereira da Silva prepara sua sopa em garrafa e prepara seeus 7 filhos com suas respectivas sungas e biquinis, a familia S'Angelo bebe suas taças de champanhe, e prepara os respectivos modelitos pro seus cães.

Após todos prontos, a diversão de um domingo qualquer já está pronta. Nao há nada de especial a ser comemorado. Ademir Pereira da Silva continua com seu trabalho como porteiro. Maria das Dores Pereira da Silva continua trabalhando como empregada. Seus sete filhos continuam frequentando a escola, e tentando garantir um futuro nesse mundo.

Mauro S'Angelo continua um empresário de sucesso, que fala ao telefone 347 vezes. Isso só no domingo. Maria Eduarda S'Angelo continua ficando em casa e dando ordens para sua governanta, que por sua vez, repassa, para os 47 empregados da casa, incluindo Maria das Dores Pereira Da Silva. E os cães continuam fazendo coisas de cães, e continuam sendo tratados como humanos que não falam.

A familia Pereira da Silva sai de casa. O metrô está lotado. Mas pode-se apertar um pouco daqui, um pouco de lá. Chega mais perto wellington... Everton pega a Edinéia no colo. Valéricson cuidado com essa sacola... Ai meu pé! Lucinéia você trouxe a bóia? Mãe, são quantas paradas? Valéricson ta caindo a vasilha cuidado...

Nesse mesmo momento, Maria Eduarda entra em seu carro. Motorista, por favor, para o clube! Claro madame. Mauro continua ao telefone. Ele entra no carro seguinte. Por favor siga o carro da frente! Meu Deus, e os cães? A senhora quer que eu volte madame? Volta né... Fazer o que?

A familia Pereira da Silva chega a praia. Com menos sensibilidade nos pés, dores nos braços e uma vasilha de comida a menos. Vamos procurar um lugar no sol. Não eu quero sombra. Tá uma sombra. Mas eu quero sol. Tá então vamos procurar um espaço que tenha sombra e sol. Aqui está bom? O que voces acham? Todos concordam? Maria das Dores começa a preparar o local.

Gente, maionese no sol não pode, se não estraga. Cade o isopor ? Amor, o gelo virou quase água, tem que comprar mais. Edinéia? Edinééééiaaa? Valéricson cadê sua irmã? Ademir meu amor, começa ascendendo a churrasqueira...

Maria Eduarda e Mauro chegam no clube. Todos cumprimentam. A família é respeitada. Pode levar eles daqui por favor? Claro senhora. Os cães nao podem frequentar a parte de dentro do clube, enquanto isso, eles ficam no espaço destinados a eles. Juntamente com os outros animais. Todos vestidos. Todos limpos.

Entra Maria Eduarda, tagarelando sabe Deus o que, e Mauro falando no telefone, sabe Deus o que! Eles entram, procuram a melhor mesa.

Olá Maria Eduarda, tudo bom?

Ei Camila.

Três beijos no ar.

Adorei o seu vestido de praia Camila!

Obrigada. Ei Mauro. Tudo Bom?

Ele tá no telefone, nao responde a ninguém...

Espera só um minuto Carlos Cézar? Ei camila, tudo bom? - Três beijos na bochecha.

Tudo sim! - Mauro volta a falar no telefone, como sempre o faz.

Bom eu vou pegar uma sauna!

Tchau Camila!

Tchau Maria Eduarda...

Gente que mulher insuportável... Você não acha Mauro? Mauro?

Não carlos Cezar , não foi isso que eu disse... Não foi mesmo...

Enquanto isso sobe a fumaça na praia. O pagode já tá rolando solto. Wellington é o vocalista de uma banda de pagode.

Maria, você por aqui?

Ei... Tudo bom?

Um abraço aperto aqui. Outro abraço caloroso acolá.

A jurema tá aí? Ela que não chegue perto. Já falei que não quero ver ela nem pintada de ouro na minha frente.

Calma mãe, Calma!

Me deixa Valericson, Me deixa! O churrasco aumentou, o pagode ficou mais alto, o espaço ficou pequeno. Os amigos chegaram. Os amigos dos amigos chegaram. Os primos dos amigos dos amigos chegaram. Os familiares dos primos dos amigos dos amigos chegaram. A praia ficou pequena.

Garçom... Garçom... Por favor. Eu cheguei tem cinco minutos e ninguém veio me atender ainda? Por favor o champanhe! Duas garrafas.

Enquanto isso os cães pulam nos canis, brincam... Latem. Rasgam suas roupas. Sujam seus pelos. Correm.

Mauro meu amor, você viu quem está aí? Mauro? Gente, cade o Mauro ? Ai que Sol forte. Preciso de um protetor. Garçom, me traz um protetor também. Esqueci o meu. Põe na conta. Gente que barulho é esse? Ai minha cabeça dói. Meu ouvido dói. Meu cerebelo dói. Meus olhos doem. Será que eles tem pepinos em rodelas para os olhos? Cade o menu? Ai saco. Esse clube já foi bom. Olha a gente que frequenta ele agora. Ai meu Deus, será que eu to falando isso alto? Minha boca tava mexendo? Minha nossa senho... Madame, o champanhe! Obrigada! Merda esqueci meu livro. Merda Esqueci o Ipod. Cade meus cachorros?

Edinéia minha filha, você passou o protetor? Wellington canta aquela música que eu adoro!

Qual mãe?

Aquela Wellington...

Qual mãe?

Aquele pagode. Fala com ele valécsion qual que eu gosto.

Mas qual é a musica que voce gosta mãe?

Toca na rádio direto.

É do Exaltasamba?

Não sei, é do exaltasamba Everton?

Não sei mãe.

Gente aquela, que ta fazendo o maior sucesso na novela das seis.

Mãe, eu nao sei, não vejo novela.

Wellington, você canta ela toda hora.

Ah... Voltar atrás?

Isso, essa mesma.. canta?

Tá bom mãe, Tá bom...

Lá vem o Mauro. Logo atrás a Camila. Canalha. Cretino. Tá me achando com cara de otária?... Meu amor, aonde você estava?

Falando com uns clientes.

Mas é domingo?

Mas Maria Eduarda, o que você quer que eu faça? Negócios são negócios!

É eu sei, eu sei. Desculpa!

Tudo bem... Mas eu tenho que ir embora.

Já?

É meu amor, aconteceu um imprevisto. Te vejo em casa?

Tá bom.

Mais beijos no ar.

O tempo passa. O sol começa a querer se esconder de um dia cansativo. Ele precisa iluminar o outro lado do mundo.

Gente, vamos embora? todo mundo, vamos? vamos arrumar tudo. Tá bom mãe, Tá bom. Eles começam a arrumar. E cantar. E brincar. E gargalhar.

Garçom... Gar... Soluço.... Çom.... Eu já vou... Soluço... Põe na conta do meu ma... Soluço... rido...

Sim senhora.

E me aju... Soluço... da por fav... Soluço... or a chegar no ca... Soluço... rro.

Claro madame.

E durante todo o caminho, ela não fala nada. Apenas soluça.

....

- Gente, alguém esqueceu esses cachorros aqui. De quem são? Da dona Maria Eduarda. Bom, eu levo eles lá na casa dela. A gente tem o endereço aqui não tem? Tem sim. Vamos então cachorros. Qual o nome deles? Ninguém sabe? Então tá... Vem cachorros, vamos levar vocês pra casa.

Os cães começam a chorar.