quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Uma noite qualquer...

Ontem eu saí para comer. Resolvi que preparar uma salada ia causar um stress muito maior do que sair, comer, pagar, e voltar pra casa. E então eu fui.
Cheguei. Sentei. Pedi. Esperei.
Enquanto eu esperava reparei na familia que sentava ao lado. Uma familia pequena, o pai, a mãe, o filho mais velho, e a filha mais nova. Os filhos comiam. Os pais observavam. Eles estavam mergulhados em um silêncio desconfortante. Tamanho era o silêncio que eles pareciam estar imóveis, como fotos que revelamos dos momentos mais legais de nossas vidas.
Eu não saberia dizer porque esse cena me chamou tanta a atenção. Talvez tenha acontecido pela familia que tenho. Pelas risadas que damos. Pelas brincadeiras que fazemos. Não existe um momento tão silencioso e inquieto quanto ao daquela familia.
Mas eu continuei ali. Esperando. Esperando o momento que alguém fosse dizer alguma coisa. Que coisa diriam. Sobre o que falariam. E como poucos sabem, meus pensamentos tem o poder de independencia muito grande. Eles são capazes de sozinho chegar a todos osl ugares possiveis. Eles criam histórias, eles inventam realidades abstratas. Eles brincam de roteirizar momentos que nao existiram. Eu dificilmente tenho o controle de pará-los. E assim aconteceu.
"Gente que silêncio. Que familia silenciosa. Olha essas crianças comendo, eles nem fazem barulho com os talheres no prato. Quantos anos o menino tem? 14? 15? acho que 15. A menina? 10? 12? Acho que 12. É dificil analisar a idade de alguém nos dias de hoje. Culpam os alimentos. Culpam o stress. Culpam a vida. Deviam culpar nós mesmos. E porque só as crianças comem? Será que os pais já comeram? Eles parecem tristes. Eles parecem sozinhos. Abandonados nessa mesa no canto do restaurante. Eles devem ter brigado. Os pais brigaram e resolveram trazer os filhos pra poder comer e assim resgatar o resto de amor existente dentro deles. Mal sabe eles que amor de filho por pais permanece. Eles podem estar se divorciando. Ou talvez estejam apenas tentando encontrar uma saída para a monotonia do casamento deles. E ninguém fala nada? A mãe roubou comida do prato da filha. O pai roubou comida do prato da filha. A filha é boazinha. O menino deve ser rebelde. Com certeza ele é rebelde. Ele come com o bone virado pro lado. Ninguém usa o boné virado pro lado em publico. Ninguem tem esse estilo sem rebeldia. É rebelde. Por isso os pais não comem do prato dele. Coitada da menina. Eles podem ser mudos. Uma familia de mudos. Uma dessas familias que os dois se amaram loucamente e decidiram ficar juntos, e todas as pessoas em volta, e todos da sociedade reprimiram, dois pais mudos, impossivel!!! E eles casaram. E tiveram dois filhos. rezaram pros filhos nascerem falando. E os dois nasceram mudos. Não, o pai falou alguma coisa. Murmorou alguma coisa. A mãe respondeu. Minha salada chegou. Caralio que fome. Quem disse que salada enche? Terminaram. Vão embora. Falando. Eles falam. Talvez eles considerem o momento da refeição um momento sagrado. De silencio absoluto..."
E eles sairam. Abraçados. Juntos.
E eu comi minha salada. Sozinho.
E meus pensamentos continuaram. Fluindo.

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